Vem cá, deixa eu te contar uma história. Vocês sabem que Shakespeare não é para principiantes, não é mesmo? Não é à-toa que a sua produção está entre as que moldaram a cultura ocidental de uma forma tal que é impossível negar a sua relevância para a literatura mundial! Ele não cansa de provar isto, e o Mercador de Veneza é uma dessas obras que mostram não apenas o vigor criativo do autor, mas o seu gosto pelas narrativas intrincadas e o poder dos infortúnios e acasos nos desfechos de suas tramas.

O Mercador de Veneza se passa no século XIV e nos conta a história de Antônio, proeminente comerciante que vivia na cidade italiana de Veneza, então o maior ponto de comércio marítimo do mundo. Antônio é descrito como um cidadão de bem, uma pessoa boa e generosa. No entanto, o eixo da história passa também pela figura de Bassânio. Apesar de não haver descrições psicológicas suficientes sobre o jovem, percebe-se que ele é prodigo, porque, embora tenha origem nobre, esbanjou seu patrimônio, e agora deseja ir a Belmonte (Calábria, Itália) cortejar seu amor, Pórcia. Ele decide procurar Antônio, que lhe fora fiador várias vezes, a fim de conseguir a quantia de 3 mil ducados, suficiente para custear sua viagem, prevista para uma duração de 3 meses. Antônio tem intenção de ajudar, porém, em seus navio e o fruto de sua mercancia, está impossibilitado, todavia, se oferece como fiador de Bassânio, caso ele consiga um empréstimo (Nath Finanças, corre aqui!). corroborando um estereotipo, Bassânio recorre a Shylock, um judeu que pratica usura.

Estas duas personagens – Bassânio e Shylock – têm, entretanto, diversos pontos divergentes: Bassânio, em certa ocasião, cuspira em um judeu, demonstrando assim ser antissemita,  o que por natureza não o faz uma pessoa benquista por Shylock, além disso, vivendo da usura, Shylock não se agrada das práticas de Antônio, que é amigo de Bassânio e que, por sua vez, tem o hábito de emprestar dinheiro sem a cobrança de juros (Nath, leia isso, por favor!…). isto posto, e considerando que dinheiro é algo que a Shylock não falta, ele propõe que, caso o pagamento não seja feito no prazo estipulado, não seria dinheiro que ele receberia de Antônio, mas, à Ariano Suassuna, seria uma libra da carne de Antônio. Ironicamente, e por motivos que só Deus e Shakespeare explicam, apesar da negativa de Bassânio, Antônio considera a proposta de Shylock justa, e vê ali, na ausência de cobrança de juros, até um ato de generosidade (há doido pra tudo). Isso o motiva a assinar o contrato de empréstimo.

Com dinheiro no bolso, acompanhado de uma nova personagem, Graciano, Bassânio segue rumo a Belmonte. É necessário frisar que Graciano é inconveniente e muito sem tato, o que, no entanto, não foi obstáculo para que Bassânio aceitasse sua companhia na viagem, com a condição de que se controlasse, dada a importância da sua ida à Belmonte.

Belmonte ( e a Europa inteira naquele período, diga-se de passagem) era um lugar com costumes no mínimo exóticos. Sobre Pórcia, o pai fez valer um desses costumes, o de pregar peças e testar a inteligência. Prevendo que a sua filha teria vários pretendentes, o rei estipula uma espécie de desafio: apresenta-se ao pretendente três cofres, o qual deverá escolher apenas um. Sendo o certo, casa-se com Pórcia, porém, sendo o errado, deverá abandonar o local e não propor casamento a mulher alguma. Um destaque interessante para o que dizia cada cofre: o de chumbo continha uma inscrição que dizia: “Aquele que me escolher deverá dar e apostar tudo o que tem” o que ao primeiro pretendente, o Príncipe da Pérsia, pareceu uma proposta muito ousada para um material que não tinha praticamente valor, face os demais que formavam os outros cofres. O segundo cofre, de prata, trazia inscrito: “Aquele que me escolher ganhará aquilo que merece.” A qualquer pretendente estas pareciam palavras muito ambíguas mas que, em todo caso, remetiam a uma proposta de tortura. O de ouro, por sua vez, trazia palavras mais agradáveis: “Aquele que me escolher ganhará o que muitos homens desejam.” Ao escolher este, no entanto, o que ele encontra é tão-somente algumas moeda de ouro, uma caveira e uns versos, entre ele, “nem tudo que reluz é ouro”.

O Príncipe de Aragão, por sua vez, ua de raciocínio semelhante: não escolhe o cofre de chumbo, dado que é um metal muito barato, mas julga ser demais o conteúdo do cofre de ouro, já que o objeto da sua busca não é o que muitos homens procuram. Escolhe assim o cofre de prata. Porém ele é um príncipe egoísta, e acredita ser merecedor de muitas coisas e glórias. Escolhe, por isso, o cofre de prata, que lhe parece mais adequado. Porém, para sua tristeza, o cofre de prata havia apenas a imagem de um bobo da corte e um verso que era, ao mesmo tempo, um bofete em sua autoestima elevadíssima.

Resta a Bassânio escolher o cofre de chumbo. O que o faz de maneira livre, já que, sendo observador, nota que os membros da casa de Pórcia entoam uma canção que afirma que o amor verdadeiro não é alimentado apena pelo olhar, numa alusão ao quanto os demais cofres pareciam atraentes e muito fadados ao olhar de quem os cobiça, contendo, no entanto, meras ilusões. Bassânio é então escolhido esposo para Pórcia.

Entretanto, o que acontece em Veneza não é nem um pouco animador: planta-se a fake new de que os navios de Bassânio haviam naufragado, com isto, até a sua sobrevivência era duvidosa, quanto mais sua capacidade de pagar, tornando-o automaticamente um devedor insolvente, recaindo sobre Antônio a responsabilidade de ressarcir Shylock.

O judeu, por sua vez, tinha também suas mágoas: Jéssica, sua filha, não contente em fugir para casar com um cristão, o faz furtando do pai uma quantia em dinheiro e um anel que tinha sido dado a ele por Leah, sua falecida esposa. Shylock tinha vários motivos para querer o fim de qualquer cristão, e o que estava ao seu alcance era justamente Antônio. Pelo Direito da época, na condição de credor – e usando de artifícios – Shylock faz com que Antônio seja preso e levado ao tribunal.

Em meio à sucessão de desgraças de Antônio, Pórcia e Bassânio se casam (ao menos isso) e de quebra, o querido Graciano também encontra um par: Nerissa, criada da casa de Pórcia. Logo, no entanto, uma carta chega às mãos de Bassânio contando toda a tragédia, e ele, junto com a esposa e o dinheiro emprestado, partem à Veneza, na intenção de livrar a pele do benevolente Antônio. Viva que é, no entanto, Pórcia articula com seu criado, Baltazar, para que seu primo, Belário, possa adiantar o que for possível antes da chegada deles, em segredo.

Pórcia revela sua vida de espírito. Diante do julgamento, face o Duque de Veneza, responsável por dizer o Direito naquela jurisdição, Shylock recusa o valor de 6 mil ducados, o dobro do valor emprestado, e quer porque quer, a libra em carne de Antônio. O Duque se vê diante de uma questão extremamente delicada, pois, de um lado, há um direito sendo ressarcido no valor dobrado da obrigação original, e por outro lado, há um contrato que dá total liberdade – mesmo que injusta – para que o credor negue tal ressarcimento.

Por sorte,  no desfecho do julgamento, o duque passa o caso às mãos de Baltazar, um jovem doutor em Direito, que, na verdade, era Pórcia disfarçada, o qual, por sua vez, é uma recomendação do celebrado advogado Belário. Porém, mesmo pedindo clemência, atentando ao pagamento da dívida, Shylock se mostra irredutível, o que não deixa ao Duque senão a opção de autorizar o cumprimento do contrato, e a retirada da 1 libra da carne de Antônio. Pórcia/Baltazar, no entanto, tem um poderoso insight e observa que o contrato tem uma falha: havia apenas a autorização para a remoção da carne, sem o sangue, caso contrário, Shylock perderia suas terras e seus bens pelas leis de Veneza.

Em um desfecho muito tenso, Shylock, perde o direito não apenas aos 6 mil ducados ofertados inicialmente, mas também a metade dos seus bens para o Estado, por ter atentado contra um cidadão veneziano, sendo ele – judeu – um estrangeiro, ao mesmo tempo em que perde metade dos seus bens para Antônio, dado que a título de indenização, como rezavam as leis da época, para piorar, sua vida é posta à disposição do Duque.

Shylock, derrotado e falido, no entanto é ajudado por Antônio: após argumentar, o Duque decide liberar o judeu de pagar a sua metade para o Estado, sob a condição de que ele se convertesse ao cristianismo e legasse de herança, após a sua morte, à sua filha e ao marido. Antônio decide usufruir da sua parte apenas dos rendimentos, permanecendo a fortuna do judeu em suas mãos. Um mero arranhão face o possível desfecho deste julgamento.

Bassânio, não reconhecendo a esposa disfarçada, acaba prometendo um prêmio ao advogado que inicialmente recusa, mas, diante da insistência, o “advogado” pede a luvas e o anel de Bassânio. Quanto às luvas, ok. Porém o anel havia sido presente de Pórcia, e ele havia jurado jamais desfazer da joia. Por sua vez, devido a grave insistência de Antônio, ele concorda em dar a joia para o “advogado” havendo a revelação e um leve conflito entre os casais, logo desfeito.

Pouco tempo depois, chega a notícia de que três dos navios de Antônio que haviam se extraviado retornaram com segurança ao porto, trazendo um ar leve ao fim do drama. Ufa, que história!

Nº de páginas: 79Tipo de Arquivo: .PDF.
Editora: n/cLink para Download
Idioma da obra: Português.Disponível para Kindle? Sim.
Adaptação para TV/Cinema: Não.

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Observação importante: livro em espanhol.


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